quinta-feira, 24 de abril de 2014

CACHIMBO DA PAZ

Ele era um garoto muito especial. Amava bastante os pais e sempre quis orgulhar bastante a família. Como seu avô, o grande exemplo de todos, era militar da reserva, decidiu que seguiria seus passos. Dessa forma, alistou-se e, ao final de 2012, conseguiu êxito no que queria: entrou para o exército.

A alegria de todos teve tempo limite. Antes mesmo de o garoto concluir a fase de recruta militar, sua mãe caiu doente. Não demorou para que os médicos culpassem os anos de tabagismo. Por conta deles, ela estava gravemente enferma, com um câncer no pulmão, que foi tomando cada pouquinho de força. E, junto dela, o garoto e seu pai iam desabando. Até o momento em que, meses depois, a mãe faleceu.

A dor foi imensa. O garoto procurou formas de se livrar daquele sofrimento: bebeu muito, experimentou maconha, tragou cigarros. Passou noites em claro, na rua, usando qualquer desculpa para não voltar para casa e ver a o lado vazio da cama dos pais. Acabou que sua melhor fuga foi o trabalho. Tornou-se um soldado honroso, trabalhando sem descanso em prol da pátria.

Pensava na mãe em cada manhã e cada noite, e era a força do amor que ele e o pai sentiam, e que recebiam de alguma forma em troca, que lhe dava disposição para seguir adiante. Para buscar sempre o melhor de si e das pessoas. Não se deixou perder em vícios ou medos.

Numa tarde comum, após um acesso de tosse, seu pai cuspiu sangue. Procuraram a emergência onde eu trabalhava, e ali se suspeitou de tuberculose. O pai não tinha tanta tosse, nem tanta febre, mas a primeira coisa que todos imaginaram por conta da história, do raio X, da carga imensa de cigarros que o homem fumara. Ele realizou vários exames, e ao final percebemos que ele felizmente não tinha tuberculose.

Mas antes tivesse. Depois de uma tomografia e uma biópsia, nos demos conta que o que estava reservado para aquele pai era muito pior. E o que estava reservado para aquele garoto era muito mais doloroso. O pai também estava com câncer de pulmão, assim como a mãe tivera.

Difícil seria para aquele garoto de menos de 20 anos entender como uma coisa tão pequena, tão frágil, como o cigarro, poderia ser um assassino tão silencioso para sua família.



CACHIMBO DA PAZ é uma música de Gabriel, o Pensador